"A atmosfera é realmente maléfica, mas você se sente à vontade dentro dela". Ao fazer um comentário sobre o lendário filme Nosferatu, Bernard Summer, o guitarrista da banda Joy Division, gerou a definição que muitos consideram a mais concisa do assunto. Dizem que os Anos Dourados foram os anos 50 e os anos 80 a "Década Perdida". Mas para muita gente (góticos ou não) os anos 80 foram uma era dourada em termos musicais. Sem pôr em dúvida a qualidade inegável do Rockabilly (som típico dos anos 50), o "Iê-iê-iê" é o começo da abordagem de temas polêmicos como o diabo, o ocultismo, drogas, sociedade alternativa dos anos 60. Bandas como Beatles, Rolling Stones e The Doors influenciam até hoje. Nos anos 70, inicio do Heavy Metal, que hoje tem um conceito totalmente diferente devido à popularização do New Metal e de outro lado o Metal Melódico, também se firmava sobre esses temas. Também nessa época o Hard Rock, o Glam Rock e, no fim da década, o Horror Punk. Para explicar a música gótica, ou "Gothic Rock", uma passagem em todos esses estilos será necessária, mostrando que o rock em si é uma teia com ligações inesperadas, gerando novos gêneros a cada dia.
Já na década de 50 algumas bandas assumiam um tom macabro de encenação com o rock n' roll, inspirados nos filmes de horror da época e os clássicos de outras épocas. O que mais tarde seria utilizado por bandas de death rock e psychobilly, a diferença para o rock gótico é que a influência vem mais de filmes expressionistas que tinham uma preocupação com a ambientação, o pavor, a atmosfera sufocante. E os filmes genéricos feitos a partir de clássicos (como A filha de Drácula, Jovem Frankenstein, O retorno de Drácula etc.), exibidos em drive-ins, e os filmes B é que estão presentes na cena death. A relação entre as duas coisas é óbvia, esses filmes tinham um caráter irônico, não eram apenas sustos, acabavam por serem divertidos, engraçados mesmo. E o grande forte do death rock é a sua ironia, o humor negro. A estrutura musical dos anos cinqüenta também foi aproveitada.
Nos anos 60 se iniciou uma fase de criação incrivelmente psicodélica no rock, talvez graças ao bem sucedido, disco dos Beatles. O Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band era altamente colorido e experimental, onde foram usadas técnicas que nem eram imaginadas na época para fazerem uma banda de quatro pessoas soar como uma orquestra inteira, instrumentos e sons diferentes, e as faixas foram imendadas umas nas outras. De outro lado bandas como os Rolling Stones mergulhavam em uma atmosfera mais requintada de diabolismo e decadência humana. Their Satanic Majesty's Request, dos Stones, tinha uma abordagem sombria e perturbadora; um exemplo é a música Paint it Black do grupo, que possui vários covers de bandas da subcultura gótica, um clássico melancólico onde Mick Jagger canta querer pintar tudo de preto e vê seu mundo se rendendo a essa cor. Poucas outras bandas da época escaparam da chuva de flores, paz e amor que os hippies evocavam sobre os anos 60, as que conseguiram fizeram de sua missão perturbar a mente de quem quisesse ouvir. Os Stones teriam que competir pelo título de majestade satã se o quisessem só para eles; na metade da década surge o Velvet Underground. Graças ao empurrão de Andy Warhol, rei da pop art, a banda se tornou um grande sucesso. Embora Andy tenha achado que seria uma boa idéia inserir a modelo Nico na banda ela realmente não se integrou muito. O primeiro disco recebeu o nome de Velvet Underground and Nico (cuja famosa capa desenhada por Andy, era uma banana), e após ele a modelo abandonou o grupo e migrou para uma carreira solo, com músicas igualmente melancólicas e sinistras. Andy Warhol acabou também por perder o interesse pela banda, mas a evocação de violência, vicio em sexo e drogas e todo tipo de perdição tinha que continuar, outros membros da banda já assumiam os vocais, mas Lou Reed acabou por tomar a frente.
Em 1970 quando deixou a banda para seguir carreira solo ela se deu por extinta. Também o The Doors teve influência na música gótica; Jim Morrison se proclamou o "Rei Lagarto" dizendo que podia fazer o que queria, inclusive era muito cogitada o fato de tocar o que não se pudesse onde diziam que não se devia tocar. Ray Manzarek convenceu seu tímido amigo Jim que suas poesias dariam belas canções, enquanto ele tocava teclados, Robby Krieger guitarra, John Densmore bateria, e Jim ficou nos vocais. Jim Morrison demorou a se soltar, mas a bebida e as luzes da ribalta o fizeram, e em pouco tempo lá estava ele sendo expulso do Whisky a Go Go por tocarem The End, música cuja letra diz "Quero estuprar minha mãe e matar meu pai". Mais tarde, já famosos, participavam ao vivo do Ed Sullivan Show, onde eram vetados em uma parte de Light my Fire; sugeriram que ele não dissesse "menina não poderíamos estar mais chapados", se ao invés poderiam dizer "estar melhores". Mas Morrison não deixou por menos: cantou a letra como era. Sempre no mesmo caminhos em que os hippies espalhavam flores muitas outras bandas trilharam morte, desespero e polemica até os anos 70.
Os caminhos do rock gótico
Embora originalmente considerado um rótulo para um número pequeno de bandas de rock/pós-punk, o rock gótico possui, hoje, um espectro bem maior - abrangendo em si o Death Rock, a Música Industrial e até algumas bandas da new wave, por exemplo. Enquanto a maioria das bandas punk focava um estilo agressivo, as primeiras bandas góticas eram mais pessoais e introvertidas, com elementos de movimentos literários como horror gótico, romantismo e niilismo. As primeiras bandas consideradas góticas foram: Sisters of Mercy, Bauhaus, Siouxsie & The Banshees, Joy Division, etc. Embora, como já foi dito, nem todas aceitem de bom grado o termo. O Bauhaus é considerada a banda pioneira do estilo. Surgiram em meados de 78. Bela Lugosi is Dead é um épico com nove minutos de duração, seu single foi lançado pelo selo independente Small Wonder. Bela Lugosi foi um ator que ficou marcado pela interpretação do clássico Drácula, de Bram Stoker. Apesar de não ter sido exatamente um sucesso de vendas, a música definiu tudo aquilo que seria o rock gótico (guitarras fálicas distantes do resto dos instrumentos e um vocal que se mistura a todo o resto como que solto no espaço), e se manteve nas paradas independentes da Inglaterra por anos e anos. Como já foi dito, a ausência de cores e o inconformismo vinham da desconfiança no futuro, graças ao período nuclear da guerra fria, da cortina de ferro, e de crise econômica. Como se pode ver realmente, uma situação propicia para obscuridão e não para louros! A voz e os trejeitos de Peter Murphy, onde se via um comportamento meio glam (influências diretas dos primeiros álbuns solos de Iggy Pop, produzidos por seu amigo David Bowie) é uma presença forte e contribuiu para o culto da banda. O primeiro álbum do Bauhaus foi In the Flat Field, mas o segundo, de 81, Mask, revelou uma maior ambição musical dos pais do gothic rock. Os elementos eletrônicos, metais, misturados à já conhecida fórmula dark gerou um álbum considerado por alguns como ainda melhor que seu predecessor, e que teria dado origem ao que alguns chamam de darkwave. Ainda e talvez entre as bandas mais conhecidas, até pelos não aprofundados no cerne gótico, além de Bauhaus, estejam ainda The Cure e Joy Division.Robert Smith liderou a banda, inicialmente chamada The Easy Cure, e permaneceu nela desde
sempre. Seu estilo é algo um tanto indefinível, mas como já foi citado, nem todas as bandas góticas se definem assim. Pós punk era uma definição bem usada - por surgir depois do auge do punk rock. Na verdade o Cure teve várias fases. O primeiro álbum Three Imaginary Boys, de 1979, teve uma turnê de promoção que os levou a serem convidados para serem a banda de suporte para a banda Siouxsie And The Banshees, banda também bastante conhecida na cena punk e pós punk, com o vocal feminino de Siouxsie Sioux. Robert Smith fora o guitarrista da banda durante sua fase punk; poucas bandas conseguiram fazer uma transição de fases tão bem quanto os Banshees, saindo do punk e se tornando um exponencial gótico. Boys Don't Cry, quando foi lançado em 1980, não obteve o sucesso esperado; só em 1986 tornou-se um hino da banda. Músicas como Friday I´m in Love e A Letter to Elise, foram outros de seus grandes sucessos, já nos anos 90. A música dos The Cure tem sido categorizada como rock gótico, subgénero do rock alternativo, como uma das principais bandas, no entanto, Robert Smith disse em 2006 que, "é patético quando o gótico ainda se cola ao nome The Cure", considerando o sub-género "incrivelmente estúpido e monótono. Verdadeiramente lastimoso".
Desambiguação
Discutir o que vem a ser ou não gótico/darkwave, em termos musicais, é uma das principais preocupações decorrentes na subcultura. Alguns artistas acabam desacreditados por tomarem uma postura que às vezes lhes faz serem vistos como meras armações da mídia, o principal fator é a saída do underground, são poucos os que conseguem se postar confortavelmente entre o sucesso de vendagens e a isenção de traição. Mas no que diz respeito ao heavy metal Gavin Badelley, em seu livro Gothic Chic, comenta que muitos góticos acham que trata-se da antítese grosseira, ignorante, machista e pretenciosa de tudo o que eles prezam através da música.No entanto, alguns admitem ser a banda Black Sabbath de grande importância para o estilo, que influenciou e ainda influencia diversas bandas da categoria. Seu primeiro álbum, intitulado com o nome da banda, tráz a descrição de um rito satânico pontuado por efeitos tempestuosos e dobrar de sinos, a capa ainda atrás uma garota pálida vestida de preto em um terreno doentiamente ocre. Também muitos góticos apreciam o som baseado em raízes agressivas, mas concentrado em um ambiente árido e sombrio assemelhado ao de dark ambient, como temas poesia romântica e nostalgia medieval, o Doom Metal talvez seja o elo perdido entre os dois estilos aqui discutidos. Mas paralelos são paralelos, comparações e aproximações à parte, nem a música, nem a subcultura gótica, por conseqüência, sofreram uma união que se seria conhecida como Gothic Metal. O gothic rock aborda com freqüência temas espirituais como o xamanismo e a cultura indígena sob uma ótica atemporal ou temas cotidianos e introspectivos sob uma ótica urbano-contemporânea, além de ter suas bases estilísticas voltadas ao rock and roll e a música pop; o gothic metal, ao contrário, aborda a época medieval e o heroísmo romântico e suas bases são o gênero metal e a música clássica. Bandas de Metal são bandas de Metal em sua essência, apenas utilizam alguns poucos elementos da música e cultura gótica, agradem a quem agradar, o público gótico ou headbanger. E se foi usada dessa conviniência para forjar um casamento mítico para cair nas graças do culto mainstream, isso sim pode ser chamado de armação da mídia. Não confundir também o Gothic rock com o post-punk, vertente do rock dos anos 80 caracterizada pelo ritmo monolítico, influências do art rock e temáticas como filosofia existencialista (ex.: Joy Division, Echo & the Bunnymen, The Cure, The Fall, Suicide e, em parte, The Smiths), mas contendo mais experimentalismos musicais (inclusive ligados ao krautrock e ao proto-punk), sem as limitações de um rótulo determinado, como ocorre no rock gótico. Outro equivoco que vem ocorrendo é classificarem o Lacrimosa (banda influente do chamado Gothic Metal) de rock gótico/darkwave.
fonte
by:Nathan
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